Em 2022, Brasil registrou 1.933 casos de câncer de pênis e 459 amputações
• De 2007 a 2022, são em média 486 amputações ao ano
• Em 2020, 463 homens morreram devido a esse tumor mutilante
Sociedade Brasileira de Urologia lança campanha de alerta para cuidados simples para prevenção
Uma ferida no pênis que gera coceira, queimação, forte odor e que não cicatriza, mesmo com tratamento tópico. Muitas vezes confundida com uma infecção sexualmente transmissível (IST), essas são as características do câncer de pênis, doença mutilante que afetou 1.933 homens de janeiro a novembro de 2022, de acordo com dados inéditos obtidos com exclusividade pela Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) junto ao Ministério da Saúde - Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS).
Para esclarecer a população, a SBU realiza pelo terceiro ano consecutivo no mês em que se celebra o Dia Mundial do Câncer, 4 de fevereiro, uma campanha de prevenção e combate ao câncer de pênis. Durante todo o mês de fevereiro, médicos esclarecerão sobre a doença nas redes sociais da entidade (@portaldaurologia no Instagram e Facebook). A entidade também vai dispor no Portal da Urologia (www.portaldaurologia.com.br) para download as artes para camiseta, bonés, take one e cartazes. Ao longo do mês será disponibilizada ainda uma aula para os agentes de saúde e ao público em geral.
“A importância dessa campanha é suprir a deficiência de informações adequadas, e falar claramente sobre esse problema tão contundente em nosso país. Mensagens simples como ‘lave corretamente seu pênis’ e a conscientização sobre a necessidade da cirurgia para o tratamento da fimose, que ocorre quando não se consegue puxar para trás a pele que cobre a ponta do pênis, e, desta forma, permitir que se lave corretamente a região que fica encoberta por essa pele que chamamos de prepúcio. Nessa campanha também disseminamos essas informações para os profissionais que estão na atenção básica à saúde, para que eles sejam os principais multiplicadores dessas importantes informações”, destaca o presidente da SBU, Dr. Alfredo Felix Canalini.
“Infelizmente o Brasil segue como uma das maiores casuísticas mundiais em câncer de pênis. A campanha que idealizamos visa combater essa doença que, mesmo para nós que lidamos diariamente com outros tipos de cânceres urológicos, é tão impactante, pela mutilação, sofrimento e alta mortalidade que a acompanha em suas fases mais avançadas. Saber que é um dos cânceres mais preveníveis que existe, e que com medidas relativamente simples podemos fazê-lo, é um alento, porém a conscientização e o conhecimento ainda não chegaram a uma boa parte da população, então precisamos continuar, até que possamos reverter esse triste cenário.”, comenta Dra. Karin Jaeger Anzolch, Diretora de Comunicação da SBU e uma das idealizadoras da campanha.
Incidência
Segundo dados do Sistema de Informações Hospitalares (SIH/Datasus) do Ministério da Saúde, em 2022 foram registrados de janeiro a novembro 1.933 casos de câncer de pênis no país e 459 amputações do órgão.
De 2007 a 2022, foram realizadas no SUS 7.790 amputações de pênis decorrentes de câncer, o que equivale a uma média de 486 procedimentos por ano. O número pode ser maior, visto que os dados continuam em constante atualização e só registram casos até novembro de 2022.
Ano | Número de casos de câncer de pênis |
---|---|
2018 | 2.134 |
2019 | 2.156 |
2020 | 2.064 |
2021 | 2.072 |
2022 | 1.933* |
Fonte: SIH/DATASUS | * Dados até novembro de 2022.
Ano | Número de amputações por câncer de pênis |
---|---|
2018 | 639 |
2019 | 637 |
2020 | 525 |
2021 | 570 |
2022 | 459* |
Fonte: SIH/DATASUS | * Dados até novembro de 2022.
Os estados com maior registro de amputação de pênis de 2007 a 2022 são: São Paulo (1.321), Minas Gerais (1.161), Paraná (633) e Ceará (526).
Dados do Atlas de Mortalidade por Câncer do Ministério da Saúde apontam que, em 2020 (último ano com estatística disponível), 463 homens morreram em decorrência do câncer de pênis. No Brasil, esse tipo de tumor é mais frequente nas regiões Norte e Nordeste e representa 2% de todos os tipos de câncer que atingem o sexo masculino.
Mortalidade proporcional não ajustada por câncer de PENIS, homens, Brasil, entre 2007 e 2020.
Ano | Total óbito | Total óbito p/ cancer | % |
2007 | 602592 | 295 | 0,05 |
2008 | 619278 | 328 | 0,05 |
2009 | 631225 | 307 | 0,05 |
2010 | 649378 | 363 | 0,06 |
2011 | 665551 | 328 | 0,05 |
2012 | 670743 | 373 | 0,06 |
2013 | 686668 | 396 | 0,06 |
2014 | 693922 | 388 | 0,06 |
2015 | 709117 | 402 | 0,06 |
2016 | 736842 | 408 | 0,06 |
2017 | 734469 | 444 | 0,06 |
2018 | 733616 | 454 | 0,06 |
2019 | 745519 | 458 | 0,06 |
2020 | 874167 | 463 | 0,05 |
Fontes: MS/SVS/DASIS/CGIAE/Sistema de Informação sobre Mortalidade - SIM | MP/Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE | MS/INCA/Conprev/Divisão de Vigilância
Principais sinais da doença
Geralmente o câncer de pênis se manifesta por meio de uma lesão na região genital, na grande maioria das vezes na glande ou na face interna do prepúcio.
“Essa lesão pode ser vegetante, ulcerada, plana, avermelhada ou um misto desses tipos. Costuma estar associada a coceira local, queimação, dor e odor desagradável. Além dessas características, pode se manifestar também como uma lesão que não cicatriza além de um mês, mesmo tendo sido feito tratamento local com medicações tópicas. A suspeita aumenta se associar-se ao aumento dos gânglios linfáticos na região inguinal”, explica o supervisor da Disciplina de Câncer de Pênis da SBU Dr. José de Ribamar Rodrigues Calixto.
Com o avançar da doença é necessária a amputação do órgão. “Em casos mais avançados, pode se impor a necessidade de emasculação (castração) e implantação da uretra na região do períneo, o que estabelece ao paciente a necessidade de fazer suas micções sentado. O acometimento dos linfonodos inguinais determina a necessidade de retirada dos linfonodos dessa região, causando sequelas como linfedema (inchaço) dos membros inferiores, de bolsa escrotal e de pênis”, alerta Dr. Calixto.
Fatores de risco e prevenção
Quatro ações ajudam na prevenção do câncer de pênis. São elas:
- Limpeza adequada do pênis com água e sabão puxando o prepúcio para higiene da glande. A limpeza deve ser realizada todos os dias e após as relações sexuais.
- Tomar a vacina do HPV disponível gratuitamente pelos SUS para a população de 9 a 14 anos.
- Realização da postectomia (retirada do prepúcio) quando essa pele que encobre a cabeça do pênis não permite a higienização correta.
- Uso de preservativo para evitar contaminação por ISTs como o HPV.
Para o presidente da SBU, a falta de informação é um dos entraves para a prevenção da doença. “Infelizmente o Brasil ainda é um país com uma enorme deficiência em escola de qualidade, e isso cria uma grande dificuldade de acesso à informação e de educação, incluindo os hábitos de higiene. E nisso incluímos as informações de como fazer a higiene correta do pênis e sobre a necessidade de procurar uma unidade de atenção básica à saúde quando for observado o aparecimento de qualquer lesão na região genital. A higiene correta ajuda a evitar a doença, e o diagnóstico precoce ajuda na cura do câncer sem a necessidade de tratamentos mais radicais como a amputação do pênis.”, diz Canalini.
Outros fatores de risco para o câncer no pênis incluem excesso de prepúcio e tabagismo.
“A doença pode ser prevenida por meio de atitudes que eduquem a população sobre a necessidade de higiene genital adequada, além do uso de preservativo, evitar início precoce da vida sexual, diminuir o número de parceiros sexuais durante a vida e evitar a zoofilia. Ações que combatam o tabagismo e vacinação contra o HPV também têm grande impacto. Ressalta-se que a circuncisão para tratamento da fimose protege contra o câncer de pênis somente quando realizada no período neonatal, entretanto ela sempre deve ser estimulada durante qualquer momento da vida, tendo em vista que auxilia na detecção precoce das lesões e favorece melhor higiene local”, acrescenta Dr. Calixto.
Vacina contra o HPV
Estima-se que o Brasil tenha de 9 a 10 milhões de pessoas infectadas pelo HPV e que, a cada ano, 700 mil casos novos da infecção surjam. A faixa etária de maior incidência é abaixo de 25 anos.
A imunização está disponível no SUS para meninas e meninos de 9 a 14 anos. Por ser uma doença na maioria das vezes assintomática, muitas pessoas não desconfiam que estão infectadas e se tornam transmissoras.
“A conscientização já deveria começar nos lares e nas escolas, iniciando com um exame simples para ver se o menino tem fimose, passando pelo aprendizado de uma boa higiene genital, vacinação para HPV entre 9-14 anos, orientações contra o fumo e proteção contra as infecções sexualmente transmissíveis. Em zonas rurais, onde a zoofilia (sexo com animais) ainda é praticada, o esclarecimento dos riscos, bem como a capacitação dos agentes de saúde, sobretudo nas regiões de maior incidência da doença, para orientação das pessoas e detecção precoce de lesões, está entre as medidas que julgamos mais eficazes para reverter essa triste estatística onde o Brasil infelizmente ainda é um dos líderes. Para isso, contamos também com o engajamento de todos”, conclui Dra. Karin Anzolch.
*Fontes:
https://doi.org/10.1007/s00432-020-03417-1
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